Anemia: veja quando a falta de ferro esconde doenças mais sérias

A anemia é uma condição caracterizada pela redução da quantidade de hemoglobina no sangue ou do número de glóbulos vermelhos, responsáveis por transportar oxigênio para todo o corpo. Quando isso acontece, os tecidos e órgãos passam a receber menos oxigênio do que o necessário, o que pode provocar sintomas como cansaço excessivo, fraqueza, tontura, palidez e falta de ar.

A anemia é frequentemente encarada como um problema comum e de fácil resolução, especialmente quando associada à reposição de ferro. Essa percepção, porém, pode ser perigosa. Ao aliviar temporariamente os sintomas, o uso indiscriminado de suplementos pode criar uma falsa sensação de controle, enquanto condições clínicas mais graves continuam evoluindo sem serem identificadas.

“É fundamental uma investigação aprofundada para identificar a verdadeira causa da queda nos níveis de hemoglobina no sangue, para que seja tratada a condição por trás desse desequilíbrio”, enfatiza o onco-hematologista Abel Costa, sócio da startup Hemodoctor, desenvolvedora de plataforma pioneira que aplica a Inteligência Artificial à leitura de hemogramas.

Tratar anemia sem investigar pode atrasar diagnósticos graves

Se, após a detecção da anemia, há prescrição médica ou automedicação com ferro, sem um diagnóstico claro, há o risco de se atrasar a descoberta de uma doença grave. “O perigo não está no ferro em si, mas no fato de que ele pode mascarar temporariamente o problema”, explica Abel Costa.

É importante identificar e tratar a causa da anemia. “Uma das queixas mais comuns que recebo no consultório é: ‘doutor, eu tenho essa anemia crônica há anos, já tomei vários tipos de ferro por via oral e ela nunca melhora de verdade’. Isso, quase sempre, revela uma falha no processo: ou a causa da perda de ferro não foi devidamente identificada ou não foi tratada de forma eficaz”, conta o médico.

Ele ressalta que é um mito a crença de que a anemia ferropriva (por deficiência de ferro) é primariamente um problema de dieta. O corpo humano é eficiente na reciclagem de ferro, e a deficiência em adultos raramente se deve apenas à baixa ingestão.

Ilustração de um gota de sangue em cima de um fundo azul claro
Anemia deve ser encarada como um sinal clínico importante, capaz de revelar condições graves que exigem investigação médica detalhada (Imagem: Helena Nechaeva | Shutterstock)

Doenças que podem causar anemia

A anemia ferropriva em adultos exige atenção clínica cuidadosa, pois pode ser a manifestação inicial de condições médicas relevantes que vão além da deficiência nutricional. “Até que se prove o contrário, a anemia ferropriva no adulto é um sinal de perda de sangue crônica”, defende Abel Costa. O surgimento de uma anemia por deficiência de ferro em um homem de qualquer idade ou em uma mulher após a menopausa representa alerta máximo para sangramento gastrointestinal oculto.

A causa pode ser desde uma úlcera até um câncer de estômago ou intestino. Mulheres em idade fértil podem apresentar anemia devido a um fluxo menstrual excessivo provocado por miomas ou disfunções hormonais, conhecido como sangramento uterino anormal (SUA).

A anemia que não é curada por meio de comprimidos também pode indicar problemas na absorção de ferro, os quais podem ocorrer em casos de doença celíaca não diagnosticada, gastrite atrófica ou em pacientes submetidos a cirurgias de desvio gástrico, como a bariátrica (especialmente o bypass gástrico). Nessas situações, a reposição por via endovenosa se torna a única alternativa eficaz para corrigir a deficiência.

Doenças inflamatórias crônicas (artrite reumatoide, lúpus) e infecções crônicas também causam anemia. A inflamação sistêmica impede que o ferro estocado no corpo seja utilizado pela medula óssea. Doença renal crônica é outro fator de risco: com a insuficiência renal, cai a produção do hormônio eritropoetina, que estimula a medula óssea a produzir glóbulos vermelhos.

Por fim, a anemia também pode ser indício de doenças primárias da medula óssea. São elas: aplasia de medula (doença rara e grave em que a medula óssea simplesmente para de produzir todas as células sanguíneas, geralmente por um ataque do próprio sistema imunológico); e as doenças mais graves tratadas pela hematologia – as neoplasias hematológicas (síndromes mielodisplásicas, leucemias agudas, mieloma múltiplo ou infiltração de outros tumores na medula).

Sintomas da anemia e de doenças associadas

Como a hemoglobina é responsável por captar o oxigênio nos pulmões e entregá-lo a cada célula do nosso corpo, a anemia leva à falta de oxigenação nos tecidos. Com isso, a pessoa sente um cansaço profundo e persistente, que não se resolve com uma simples noite de sono. Outros sinais e sintomas são dor de cabeça, tontura, zumbido, dificuldade de concentração, taquicardia (palpitações), dispneia (frequência respiratória aumentada) e palidez na pele e mucosas.

A anemia ocasionada por doenças graves, como os cânceres, vem acompanhada de alguns dos seguintes sintomas: perda de peso inexplicada, febre (tipicamente vespertina, sem causa infecciosa aparente), sudorese noturna (a ponto de molhar a roupa de cama), dor óssea persistente, sangramentos na gengiva ou nariz, hematomas (manchas roxas) e infecções frequentes.

Detecção de anemia e doenças graves

A prática do check-up é a principal ferramenta para a detecção precoce de anemia e doenças graves. De maneira geral, recomenda-se a realização anual de um hemograma completo. Por ser um exame de baixo custo, alta disponibilidade e riquíssimo em informações, o hemograma é o pilar de qualquer avaliação de saúde.

“Quando interpretado em sua totalidade (analisando o tamanho das células, a variação entre elas e as contagens de leucócitos e plaquetas), o hemograma nos dá o caminho inicial. A partir daí, a investigação é totalmente personalizada, baseada na história do paciente: sintomas, comorbidades, medicamentos que utiliza, histórico familiar”, esclarece Abel Costa.

Por Vanessa Haddad

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